quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Prender Indígenas, É Pra Isso Que Serve O Ibama?

Deem uma olhada na notícia publicada hoje na UOL:

"Líder indígena é preso por desacato pela PF ao embarcar em voo com cocar"

Um agente do Ibama barrou o líder Paulo Apurinã no aeroporto de Manaus porque ele carregava um cocar feito de penas de animais silvestres!
PQP! Isso é o Brasil! O tráfico de animais praticado por brancos comendo solto, e o indígena é humilhado no aeroporto por seguir suas tradições culturais!
Esse agente do Ibama devia ser processado por racismo!

O BRASIL É O GRANDE ROMANCE INACABADO DE KAFKA!

Para ler a notícia completa, cliquem no link abaixo

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/11/23/lider-indigena-e-preso-por-desacato-pela-pf-ao-embarcar-em-voo-com-cocar.jhtm

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Spray de pimenta neves

As crianças brincam na piscina do Nem. Devia ter uma lei que garantisse um traficante preso na vizinhança a todo menino e menina. Uma lei assim: “Toda criança tem direito ao ensino, desde que seu tempo na escola não exceda 4 horas diárias de segunda à sexta. Toda criança tem direito à piscina expropriada de traficante e a um terreno baldio a menos de quinhentos metros de sua casa, onde possa soltar pipa, jogar bolinha de gude e bater punheta escondido. Lugar de criança é na rua.”

Por falar em Nem, tá certo, traficante é safado, sem vergonha, vagabundo, marginal, delinquente, assassino e tudo aquilo mesmo que os homens gordos esbravejam nos noticiários das 18:00H. Pior, traficante é torturador, arranca unhas, arranca cabeças, põe em gente viva dentro de pneus e taca fogo. Mas às vezes, pra passar o tempo, fico me perguntando pra que fazem leis no Brasil? Veja bem, segundo uma tal Lei nº 14, de 11 de novembro de 1994, capítulo 17, art. 47, que fixa Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil, nenhum preso será constrangido a participar, ativa ou passivamente, do ato conhecido como exibicionismo forçoso à fotografia ou filmagem. Por isso os presos cobrem a cara com a camiseta.

Os profetas da TV anunciam o fim dos tempos, a sociedade se sacia apenas com vingança, na lei surda do silêncio, a polícia seria a última instância.

Mas nem quando prendem o Nem, que tem dinheiro como ninguém, a lei é cumprida. Os policiais levantavam a cara dele puxando pelos cabelos pra todo mundo todo poder fotografar. Contentes, os policiais fotografam com seus celulares. Guardar e contar pros netos o dia em que a Rocinha foi ocupada, digo, reintegrada ao território nacional. Sim, porque o Nem era o rei de um reino à parte onde valia a lei do dente por dente, do olho por olho. Literalmente. Por isso apenas, pra nem acabarmos iguais a eles, falo em cumprir as leis.

Mas é que a tal lei nem pegou... Ora, desfaz a lei. Faz outra: “Todo preso terá direito a ser fotografado e filmado no ato do aprisionamento, garantindo a sua integridade física. As fotos documentam o seu estado e garantem eventuais arbitrariedades que, antes delas, eram cometidas nas delegacias.” Pronto, fica todo mundo feliz.

Por que no Brasil tem lei que pega e lei que nem pega? Todo mundo devia ter direito a saber que leis existem para serem cumpridas. Mas no Brasil o que pegou mesmo foi o Dura Lex, sed Lex no cabelo só gumex.

Tá certo que também tem lei demais neste país. Tem gente que acha a eficácia dos políticos se mede pelo número de leis que eles propõem. Gente que nem pensa, porque, pense bem: Só de deputados federais são 513, mais milhares de vereadores (5564 munícipios) e centenas de deputados estaduais!

Desse engano, de que a gente precisa de leis novas antes mesmo de ter apreendido as antigas, nascem leis importantíssimas como proibir o fabrico de açúcar em casa, demarcar áreas de pouso para OVNIs ou o Dia da Homofobia.

Um dia todo mundo vai ter direito a um tablet no bolso para consultar seus direitos.
— Você nem pode fazer isso!
— Posso, tá na lei.
— Isso vamos ver! Vamos ver... vamos ver... pesquisar “Festa de Aniversário em Condomínio”... 47 ocorrências encontradas...

Sabe aquela velha máxima, “A liberdade de um vai até onde começa a liberdade do outro?” Pois num é? Bom senso, meus senhores.

Todo mundo tem direito a nem ter um traficante na porta de casa. Todo traficante tem o direito de ser preso, e todo preso tem direito de nem ser fotografado. E assim por diante até chegar na festa de aniversário do condomínio ou no assunto da semana, o baseado na universidade.

Se não estiver na lei, consulte Pepeu Gomes, “Você pode comer baseado / baseado em que você pode comer quase tudo / contanto que deixe um pouquinho / um pouquinho de fome”.

Você vai me dizer, “Quero ver se fosse com o seu filho”. Mas esse é o problema, foi com o meu filho. Foi o nosso filho de classe mediana que a polícia prendeu na universidade. E a hora em que é o do nosso filho que está na reta é a hora de você pensar duas vezes se a polícia que você gosta é mesmo a do “prende e arrebenta”.

Porque todo policial tem direito de prender quem quer esteja fumando maconha na rua, está na lei. É uma lei excelente, seguindo a qual nossos policiais podem bater nos pobres, arrancar propina dos mauricinhos e bolinar as mocinhas, pobres ou nem.

É uma lei delirantemente excelente, que permite que se acabe do dia para a noite com a cracolândia, por exemplo. Basta prender os dois mil viciados que vagam pelas ruas do centro. Construir quarenta celas, botar 50 presos em cada uma e prender junto uma menina. Que toda menina presa fazendo programa em beira de estrada tem direito a uma cela com cinquenta presos pra ver se aprende.

Se nem tiver onde prender esses meliantes, acontece que nem na semana passada, na reportagem do dia oito de novembro de dois mil e onze veiculada no SBT Brasil, “O morador de rua dorme numa praça da cidade, três guardas municipais se aproximam, um deles tem um spray de gás pimenta. Sem nenhum motivo ele joga o gás no rosto do homem. Repare que depois da violência, o guarda passa o spray para a colega, que esconde dentro da roupa. O gás provoca uma forte ardência nos olhos, nariz e garganta. Os guardas assistem imóveis ao sofrimento do rapaz. Um deles usa o cacetete para obrigar o homem a se levantar. Um chute nos pertences do homem, e os guardas partem, como se nem tivessem feito nada.”

E na página da internet onde a notícia foi publicada, comentários assim “Tem que apanhar mesmo, bando de vagabundo!”

Todo mundo tem direito de falar. Ainda que seja bobagem.

Todo mundo tem direito a uma polícia que cumpra as leis. E todo policia tem direito a uma latinha spray. Spray de pimenta neves.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Por favor, por onde eu pego a Terceira Via? Ou o poder transformador da arte


Exposição Face to Face, do artista francês J.R., nas ruas de uma cidade palestina


Dia desses, escavando na internet, encontrei este poema:

Dino “Equipe escavando na América do Sul / encontra os restos fósseis do que seria / o maior dinossauro que já existiu. // Cientistas renomados da América do Norte / não medirão esforços para provar que, / embora maior e certamente muito mais forte, / o novo dinossauro não era carnívoro, / e sua agressividade nem chegava perto / da do Tiranossauro Rex, // o dinossauro favorito dos garotos / da América do Norte.”

Segundo Pipol, o autor do poema, ele “mostra que mesmo a ciência não está livre de contaminação por ideologias e preconceitos (...) O Tiranossauro Rex não pode de forma alguma levar surra de outro Dino qualquer. O poema revela um mecanismo sutil que relaciona pais e filhos e nações e continentes.”

Esse mecanismo sutil se chama propaganda ideológica e foi percebido pelos romanos há mais de dois mil anos, quando saíram Europa adentro distribuindo a povos que ainda viviam na Idade do Ferro, pão, circo e civilização.

Não é em essência diferente dos espelhos e miçangas que os portugueses distribuíam aos tupinambás e nem da produção hollywoodiana.

A diferença, hoje, está na capacidade de resistência da produção cultural não norte-americana. Essa produção cultural não norte-americana pode ser chamada de contra-propaganda ideológica se revelar a agressividade e a sutileza do atual processo de aculturamento. Inclusive incorporando, mastigando e cuspindo o bagaço do enlatado. Botando mosca na soap-opera.

Yes, nós temos banana. Mas chiclete com banana. Este processo de minar o discurso dominante, que não é mais imperialista norte-americano, mas um discurso de manutenção do status-quo que interessa às elites do mundo inteiro e corporações internacionais que podem ter sede em solo norte-americano, francês ou brasileiro. Este processo, é a glória do Oswald de Andrade: Tupi or not Tupi? É a deglutição do bispo Sardinha, passando pelo sequestro do embaixador norte-americano e desaguando na lenda de que o hambúrguer do MacDonalds é feito de minhoca.

Esse processo é a terceira via. Explicando:
Se o mundo não vai mudar só com atos pontuais, são com os atos pontuais que ele pode começar a mudar. Mas mudar para onde, para chegar onde? Você me pergunta. Se o imperialismo não é mais exclusivamente norte-americano, mas um imperialismo de corporações, então vamos sequestrar os caminhões da Coca-Cola? Tacar fogo nos poços da Petrobrás? Então vamos criar a estatal do refrigerante, a Refribrás? E a estatal do petróleo... Ops, a Petrobrás já é a estatal do Petróleo e uma grande corporação internacional ao mesmo tempo.

Certa vez, indo para a Praia do Forte, Bahia, peguei carona com um figura de 1,80 de altura, uns 120 quilos, cabelos meio ensebados na altura dos ombros, barba preta com uns fios embraquecendo e a voz possante querendo trovejar mais alto que o ronco da S-10, “Você acha que a Petrobrás banca o Projeto Tamar por que gosta da natureza? Rapaz, eu trabalho em navio petroleiro. A Petrobrás é uma grande destruidora da natureza! O que a gente derruba de petróleo no mar... Isso aqui é fachada! Pra cada tartaruga salva aqui, eles matam 100 em alto-mar!”

É óbvio, como é óbvio que a Coca-Cola não quer erradicar a pobreza no Brasil, o Itaú não quer nos salvar das trevas culturais e os Correios estão se lixando para o esporte nacional.

A AmBev, por exemplo, gastou só em 2009, 914 milhões de reais com propaganda. Já a receita total da Fundação Gol de Letra, totalmente revertida para importantes projetos sociais junto à comunidade carente, não chegou neste mesmo ano a 4 milhões. E para chegar a este número contou com a parceria não apenas da AmBev, mas também da Petrobrás, Peugeot, Itaú, Adidas etc, etc, etc...

Ou seja, todos esses projetos sócio-culturais patrocinados por grandes empresas, embora importantíssimos para os beneficiados, são esmolas das corporações para a sociedade. Nem isso: São propaganda. Marketing barato cujos resultados saem de graça no Jornal Nacional, onde, se fossem pagar por 30 segundos no intervalo, gastariam 478 mil reais.

Com 478 mil reais dá pra fazer uma enormidade de coisas na área da educação, esporte e cultura. É isso que essas empresas perceberam e estão fazendo. No mundo do politicamente correto, ainda saem bem na fita.
O MacDonalds agora nos oferece a opção de pedir salada no lugar da batata-frita. Com isso, lucra, e ainda posa de antenado com a geração saúde, com os modernos, os verdes, os frequentadores da Vila Madalena e os moradores de Perdizes formadores de opinião.
Pura e simples propaganda ideológica.

Digo tudo isso sem ironia alguma, a ironia não é a terceira via.
A polícia na favela não é a terceira via.
Assassinar o Kadafi não é a terceira via.
A política de conchavos não é a terceira via.
A imprensa dos grandes conglomerados de comunicação não é a terceira via.
E a tecnologia não é a terceira via. Mas, sabendo usar, pode ser um veículo poderoso de livre comunicação e mobilização. Ou seja, de contra-propaganda ideológica. Efeito adverso, não é o caso depositar flores no túmulo do Steve Jobs. A não ser que você seja um dos herdeiros de sua fortuna estimada em mais de 8 bilhões de dólares. Sozinho ele podia fazer um bolsa família.

Então, que raios é essa terceira via? Nem eu sei e nem ninguém. Não é um dogma pré-estabelecido. Não é o “terceirismo”, superação definitiva do dualidade capitalismo/comunismo. Está no nome, é um terceiro caminho. A se trilhar. Onde este caminho vai dar? Espera-se, num mundo melhor.

A terceira vida é um dinossauro, já acharam um metatarso aqui, uma escápula ali, mas nunca acharam um esqueleto inteiro, ou melhor, um ovo que nos permitisse iniciar esse Jurassíc Park dos sonhadores tardios, loucos que mesmo após a queda do Muro de Berlin ainda continuam acreditando que o mundo pode mudar.

Em 2007, JR, fotógrafo e artista de rua francês foi à Palestina e Israel para tirar fotos de palestinos e israelenses que tivessem a mesma profissão: taxistas, cozinheiros, advogados etc. Ampliou e colou essas fotos nas ruas de oito cidades palestinas e israelenses, lado a lado, israelenses e palestinos. Quando percebeu que os painéis fotográficos eram grandes demais e não conseguiria colá-los apenas com suas escadas, um palestino disse que podia ajudar, e trouxe uma escada de dentro da Igreja da Natividade.

Em fevereiro de 2011, Hector Zamora, artista plástico mexicano radicado no Brasil, fincou 500 bandeiras brancas em uma praia na Nova Zelândia. Hector pediu que a população ajudasse a fincar as bandeiras na praia. E no meio dessa festa, um Maori apareceu e fincou a bandeira Tino rangaritanga (auto-determinação). Essa bandeira que vem sendo usada pelos Maori para marcar sua posição de não-submissão política dentro da Nova Zelândia. Bandeiras brancas são um símbolo internacional de paz, mas na Nova Zelândia foram usadas pelos colonos britânicos durante a colonização para demarcar a terra. Hector Zamora confessa que o momento em que o Maori fincou sua bandeira espontaneamente foi um dos momentos mais gratificantes de sua carreira.

Na semana passada declamei um texto sobre moradores de rua no Sarau do Ocupa Sampa, debaixo do viaduto do Chá. Quando acabei, um morador de rua veio falar comigo, “Eu queria te agradecer, sou morador de rua e você nos representou com suas palavras”.

Eu não sei aonde este caminho vai levar, mas sei que é por ele que quero ir.

Entendeu agora a receita pra se abrir esta trilha na selva de propaganda, marketing e publicidade ideológica? Uma pitada de tecnologia, arte a gosto e muit, muita, muita educação.

A terceira via é educação. Educação na escola, sim, e primeiro e antes. Mas educação ampla geral e irrestrita. Educação que nos permita entender que corrupção não é normal. Educação que nos permita mais que ler, entender. Que nos permita comprar não apenas batata frita e iogurte com o dinheiro do bolsa-família.

Não é preciso reinventar o Brasil nem o mundo nem a roda. É só fazer arte com tudo isso. Para Foulcaut, “A literatura”, por exemplo, “constitui um espaço de transgressão em que tudo o que é fixo torna-se móvel abalando nossas estruturas de pensamento herdadas historicamente.”

Não sei se algum dia o mundo vai ser mais justo, se as grandes corporações vão abrir mão de parte realmente significativa de seu lucro com projetos sociais, ou se, paraíso dos paraísos, algum dia projetos sociais não serão mais necessários.

Enfim, eu não sei quais contornos ideológicos e políticos teriam uma sociedade onde eventualmente existisse justiça social, mas sei que a melhor maneira de fazer esta tão necessária contra-propaganda que nos permita dizer que sim, que nossos dinossauros dariam um cacete no Tiranossauro Rex, é através da arte.

Arte que bote pedras pra rolar. “Pedras rolantes não criam musgo”. Como o poema Oitava Pedra, de Cláudio Portela “O que difere a Disneylândia da Crackolândia? / Tudo é sonho e prazer!”

Porque a verdadeira arte é feita para mudar o mundo. Se não for assim, diz o escritor André Sant’Anna, não é arte, é entretenimento.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Falência das Ideologias - Do Ocupe Wall Street ao Ocupa Sampa


Foto: Paulo D'Auria

“Muitos de nós somos da classe média, trabalhadores. Não somos um monte de hippies” diz a artista plástica inglesa acampada com mais ou menos duzentas pessoas junto à Catedral de Saint Paul, tradicional ponto turístico de Londres. O acampamento é uma manifestação contra o capitalismo.

Inúmeros acampamentos-protesto como esse se espalham pelo mundo. De Wall Street ao Vale do Anhangabaú.

Por enquanto, não parece ser nada de mais. Duzentas pessoas numa cidade como Londres, não é nada. No Anhangabaú então, não passam de um grupinho de estudantes. O PT não está lá nem o PSTU. O PSDB não está lá e nem a Globo passou pra conferir.

Fiquei sabendo porque uma amiga poeta escreveu no FaceBook que o Ocupa Sampa ia organizar um sarau no feriado de Finados debaixo do Viaduto do Chá.

A inspiração clara desses acampados ao redor do mundo são os protestos da Praça Tahir, no centro do Cairo. Os egípcios, depois de defenestrar o ditador Mubarak, agora estão acampados na praça, pressionando o atual governo por mudanças reais e convocação de eleições.

A diferença dos acampados em Wall Street, Londres, Madri, Islândia etc, é que ninguém quer derrubar o Barack Obama ou a Dilma Roussef. O alvo é mais em cima: Eles protestam contra as grandes corporações e o capitalismo como sistema social dominante.

Eles são contra o capitalismo mas ainda não sabem o que colocar no lugar: essa é uma questão a ser descoberta e construída a partir da discussão coletiva. E é justamente aí, no que os críticos chamam de falta de consistência desse movimento, que eu enxergo sua maior virtude: A ausência de uma ideologia pré-estabelecida.

Afinal, desde alguns anos antes do Muro de Berlin cair, em fins de 1989, que até o Cazuza já sabia que a era das ideologias havia acabado.

Claro que os governos comunistas que caíram com o Muro no final do Séc. XX não representavam o comunismo puro, como concebido por Marx. Mas a impressão que ficou para o mundo foi: “Não deu certo”.

Naquele momento, teve até quem previu o fim da História. Como se o mundo tivesse finalmente alcançado a libertação total. Como se o capitalismo fosse a libertação. Como se os países capitalistas estivessem realmente interessados na liberdade dos povos que viviam sob jugo comunista, e não apenas de olho em novos mercados de consumo.

Não, a História não acabou, e Bin Laden deixou isso claro ao derrubar as Torres Gêmeas.

O poeta Haroldo de Campos diz que a poesia hoje é uma poesia de pós-vanguarda. Porque, “Ao projeto totalizador da vanguarda, sucede a pluralização das poéticas possíveis. Ao princípio-esperança, voltado para o futuro, sucede o princípio-realidade, fundamentalmente ancorado no presente.” Traduzindo: A poesia não precisa mais levantar bandeiras que vislumbrem o futuro redentor prometido pelas esquerdas. Aos poetas cabe apenas debruçar seu olhar sobre o presente. Haroldo de Campos não fala em pós-modernismo porque, para ele, o conceito de pós-vanguarda não está ligado a uma superação do modernismo, mas a uma superação das utopias. É a pós-utopia. O que nos leva de volta à falência das ideologias.

Para simplificar, consideremos aqui a utopia e ideologia como conceitos interligados. Quase sinônimos. A utopia como filha das ideologias de esquerda.

Como poeta e historiador, sou a favor da incorporação do conceito de Haroldo pela História. Proponho uma pequena reforma naquela velha Linha do Tempo que aprendemos na escola. Na reforma que sugiro, apaga-se a chamada Idade Contemporânea. Fica assim: A Idade Moderna, que acaba com a Revolução Francesa, fica como está. Daí até a Revolução Russa, passamos a ter a Idade das Revoluções. De 1917 até a queda do Muro de Berlin e das Torres Gêmeas, temos a Idade das Utopias. A partir de então, começa a era que vivemos hoje, a Idade Pós-Utópica.

Isso porque, como os acampados-desempregados de classe média em Londres já perceberam, as utopias estão esgotadas. A tão esperada 3ª via não era mesmo a social-democracia de Helmut Cohl e Fernando Henrique Cardoso. A 3ª via que se sugere agora, deve nascer da prática, da realidade, de pessoas reais e comuns buscando saídas para os problemas do mundo.

Talvez já esteja nascendo. Quem sabe afinal no que vai dar a Primavera Árabe?

Já dizia o herói mexicano Emiliano Zapata, “O povo que precisa de um líder, é um povo fraco. Um povo forte não precisa de um líder forte”.

Quando a Era das Utopias acabou, me desencantei também com o Ser Humano. Acreditar em uma sociedade organizada segundo princípios intelectuais e de justiça, para mim, era acreditar que o Ser Humano podia suplantar a sua condição “bestial” básica. Podia se governar por outra lei que não a Lei da Selva, a Lei do Mais Forte.

Quando tudo ruiu, me bateu um enorme desencanto. E ver a velocidade com que algumas figuras, como o antigo comunista Rodolfo Konder, se bandeavam para o lado do Maluf, ou, mais tarde, ver o PT se enlamear com a corrupção, nada disso ajudou.

Agora, talvez, esteja na hora de voltar a acreditar, de voltar a sonhar. Um sonho sem líderes, sem comunismo, sem capitalismo, um sonho simples, de pessoas reais, desempregados-acampados expulsos do paraíso consumista.

Um sonho pequenininho, afinal, enquanto pouco mais de cinquenta pessoas davam voz ao sarau do Ocupa Sampa, bem em cima da gente, no alto do Viaduto do Chá, na Zombie Walk, a TV mandava dizer que três mil jovens fantasiados de zumbis brincavam o Dia de Finados.

Um sonho pequeninho, mas não é todos os dias que pessoas comuns, por poucas que sejam, percebem ao mesmo tempo que a História vive um nó de incertezas e resolvem desatá-lo com as próprias mãos.

Um sonho pequenininho. Um sonho meu, um sonho seu. Um sonho nosso.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ele votou no Serra... E daí?

Ontem, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Nelson Jobim, ministro da Defesa, citou uma frase de Ulisses Guimarães que resume com exatidão o que é política: "Em política, até a raiva é combinada".

Andam fazendo uma tempestade em urna d'água porque o homem declarou que votou no Serra na última eleição... Não sendo ele do PT, mas do PMDB, (partido que apoiou tanto FHC quanto Lula), uma pergunta não quer calar: E daí?
Não é normal que um governo democrático reúna representantes de todos os matizes da sociedade?

Não gosto de tomar partido daqueles que botam a culpa dos males do mundo na imprensa, mas, neste caso... Isso, pra mim, nem é notícia. Cada cidadão vota em quem sua consciência mandar, e a presidente convida para ministro quem ela achar mais competente para o cargo. Ponto. Ponto final.

Enfim, em um terreno onde até a raiva é combinada, desconfio que por trás de tanto diz-que-diz, tem alguma coisa que não contaram para a gente...

E por que tenho que ler essa notícia desenxabida toda vez que abro a Internet, mas ninguém fala nada sobre o envolvimento de oito generais no desvio de 11 milhões de reais que deveriam ir para a melhoria de nossas estradas?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Piada de português

Deu no Jornal Nacional que tem livro didático ensinando a falar errado... Então a minha mãe fala errado? O meu sábio avô? Eu?Please, Mr. William Bonner, o senhor poderia estar me ensinando como pedir segundo a norma culta um chopps e dois pastel? Por que, pqp!, Efe Ene Eme não pode ser Fê Nê Mê? O senhor poderia estar me ensinando como posso acertar com maior acuidade um tiro no árvaro?

E nem venha me perguntar o porquê deste prazer em meter o pau na Globo. Citando o cérebre "fi-lo porque qui-lo", meto-o porque duro sou, se mole fosse, punhetaria-me!

Com a palavra, Marcelino Freire: